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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Morre Félix, o goleiro tricampeão


Félix entrou para a história do futebol brasileiro, mas morreu incomodado pela fama de frangueiroFélix entrou para a história do futebol brasileiro, mas morreu incomodado pela fama de frangueiro
Rio (AE) - Estádio Azteca, 21 de junho de 1970. O Brasil acabara de conquistar o tricampeonato mundial. Em meio à comemoração, perceberam a falta de alguém, justamente o goleiro titular da seleção. Pouco depois, ao juntar-se aos companheiros, ele se explicou: saíra correndo atrás de um telefone para ligar para o Rio e falar com Lígia, uma de suas três filhas. "Filha! Teu pai é campeão do mundo! Pode falar para suas amigas aí no colégio que eu não sou frangueiro não!", foi o que disse Felix naquela ligação.

O autor daquele telefonema morreu na manhã de ontem, num hospital da zona leste da cidade de São Paulo. Felix Miéle Venerando foi vencido por um enfisema pulmonar após exatos 74 anos e oito meses de vida. Morreu incomodado pela fama de frangueiro que o perseguia desde antes daquela Copa de 70. Incômodo que jamais superou. Tanto que, virava e mexia, recordava, a amigos e em encontros com jornalistas, aquela passagem da ligação feita enquanto todos os seus companheiros festejavam.

Felix é o terceiro tricampeão mundial que se vai. O lateral-esquerdo Everaldo faleceu em 1974 em um acidente de trânsito. E o zagueiro reserva Fontana foi fulminado por um ataque cardíaco aos 39 anos, em 1980.

"Cidadão da Mooca", como costumava dizer, Félix começou no Nacional de São Paulo, passou pelo Juventus - clube em que se profissionalizou com apenas 15 anos - e em 1955 chegou à Portuguesa. Em 1957 voltou ao Nacional, por empréstimo. Três anos depois, retornou à Lusa. Ficaria até 1968, quando saiu para o Fluminense, onde ganharia vários títulos e encerraria a carreira, no início de 1978, aos 40 anos.

À seleção, ele chegou em 1965. Em 1967/1968, foi bicampeão da Copa Rio Branco. Titular absoluto nas Eliminatórias para a Copa do México, em 1969, manteve a posição durante o Mundial, mesmo com a troca de treinador - João Saldanha por Zagallo. Defendeu o Brasil até 1972, num total de 48 partidas.

Magro, meio corcunda, considerado baixo (tinha entre 1,76m e 1,79m, de acordo com registros imprecisos), ganhou o apelido de "Papel". E, graças à sua elasticidade, ajudou o Brasil em 1970 com defesas milagrosas, apesar das falhas em vários dos sete gols que sofreu.

Foi na Copa que fez aquelas que considerava as duas maiores defesas de sua carreira. No 1 a 0 contra a Inglaterra, pegou cabeçada à queima-roupa de Lee e, no rebote, o atacante inglês chutou seu rosto. Mas ele ficou com a bola. "Só falam da defesa do Banks (goleiro inglês) na cabeçada do Pelé. Mas tem de lembrar a minha também. Se não lembram, eu lembro. Fui a nocaute com aquele chute", dizia Felix. A outra defesa marcante foi contra o Uruguai, na semifinal da Copa de 70. "Peguei uma cabeçada do Cubillas onde a coruja dorme (no ângulo); na sequência, o Brasil fez 3 a 1", recordava. Depois de deixar o gol, Felix teve breve trajetória como treinador, foi gerente de loja de eletrodomésticos, de uma funilaria e teve uma escolinha de futebol. Não ficou rico, pois, "naquela época, não se chegava a tanto". 

Félix, que será enterrado hoje às 10 horas, no Cemitério do Araçá, em São Paulo, morreu frustrado por não ter desfrutado da aposentadoria para os jogadores campeões mundiais na Lei Geral da Copa.

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